Review: FED 5b — A Sutil Brutalidade da Fotografia Soviética
Por M.Martins
Em um mundo dominado por sensores e megapixels, revisitar a FED 5b é como entrar em uma cápsula do tempo. Lançada na década de 1970 pela fábrica soviética FED, em Kharkiv (atual Ucrânia), essa rangefinder 35mm encarna a essência da fotografia analógica em sua forma mais direta, crua e — por que não? — bela em sua brutalidade.
A estética da função: design e construção
Ao tirar a FED 5b da mochila, a primeira sensação é a de segurar um pequeno bloco de concreto estilizado. Sua construção em metal espesso e engrenagens mecânicas não deixa dúvidas: esta câmera foi feita para durar — e, se necessário, servir de martelo. Longe do refinamento de uma Leica M3 ou da elegância compacta de uma Canonet QL17, a 5b aposta na resistência e na simplicidade como virtudes.
Ela é a sucessora direta da FED 4, mantendo o sistema telemétrico mas abandonando o fotômetro interno presente nas versões 5 e 5c. Isso pode parecer um retrocesso, mas para os puristas é um convite: confiar no próprio olho, na experiência, e no velho e confiável “Sunny 16” ou fotometro de mão/celular. A fotografia deixa de ser automatizada e volta a ser um gesto consciente.
A ótica soviética: Industar-61 L/D
Acoplada à câmera, temos a Industar-61 L/D 55mm f/2.8, uma lente frequentemente subestimada. Revestida com lantânio — um elemento pouco comum em lentes acessíveis — ela entrega uma nitidez surpreendente e um contraste limpo, quase clínico. O bokeh é suave, discreto, e equilibra bem com a estética dura da câmera.
Para retratos em preto e branco, a combinação dessa lente com filmes de grão mais grosso pode produzir resultados inesperadamente delicados, quase poéticos.
A experiência do uso
Usar a FED 5b é uma aula de fotografia. Ela exige tempo, atenção, e uma dose de paciência. O visor é grande, mas o foco por sobreposição pode ser desafiador em ambientes escuros. O avanço do filme é firme, com uma alavanca que responde bem ao toque. Cada clique é deliberado. E isso muda tudo.
É uma câmera que transforma o ato de fotografar em um ritual. Da medição de luz ao ajuste manual do foco e obturador, tudo acontece com lentidão — e isso é bom. Em tempos de excesso de imagens, a FED 5b ensina a olhar com calma.
O visor da câmera não é o mais claro, nem o mais preciso — e muito menos o mais discreto. Mas ele cumpre seu papel com dignidade. Para os fotógrafos de rua que preferem o foco por estimativa e mantêm a câmera na altura da cintura, a usabilidade surpreende: tudo se mostra de forma intuitiva e funcional.
No entanto, discrição não é seu ponto forte. O obturador produz um click metálico, alto o suficiente para chamar atenção em ambientes mais silenciosos. E o manuseio em si remete à condução de um tanque: robusto, confiável, mas também pesado, lento e um tanto difícil de controlar. É uma câmera que impõe presença — o que pode ser encantador ou inconveniente, dependendo do estilo de quem a segura.
Para completar, a versão com corpo vermelho vibrante deixa claro: ela não quer — nem tenta — passar despercebida.
Comparações que explicam — e limitam
Não se trata de rivalizar com as câmeras japonesas ou alemãs do mesmo período. A FED 5b vem de outra lógica: a da produção em massa para um país fechado, com recursos escassos. Ainda assim, ela entrega imagens tão duradouras quanto suas concorrentes. Não é refinada, mas é eficaz. Não é bonita, mas é honesta.
Se há um rival à altura, talvez seja o tempo. E nesse embate, a FED 5b segue viva, resistente e ainda relevante para quem busca autenticidade.
Para quem é?
A FED 5b não é a melhor escolha para quem está começando. Mas para quem já entende o básico da fotografia analógica e quer explorar um universo mais artesanal, ela é um excelente segundo passo. Mais que uma câmera, ela é um teste de afinidade com o processo.
Se você gosta de saber o que está por trás de cada exposição, de sentir o peso do equipamento e de lidar com suas pequenas manias mecânicas, a FED 5b pode se tornar sua companheira favorita.
Veredito
A FED 5b não é para todos — e essa é justamente sua força. Ela exige, desafia e recompensa. É uma câmera que ensina a respeitar a luz, a pensar antes de clicar, e a encontrar prazer no processo. Um artefato de outra era que, nas mãos certas, ainda tem muito a dizer.
Nota final: 7/10 — Uma relíquia funcional com personalidade de sobra, e a prova de balas.
FED 5b não quer ser amada por todos. Ela quer ser compreendida por poucos. E, uma vez compreendida, dificilmente será esquecida.